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Blogtailors - o blogue da edição

Entrevista: Teresa Figueiredo - directora de Marketing da Bertrand

30.11.07
A entrevista abaixo foi publicada na Meios e Publicidade, do passado dia 16.11.2007, nas páginas 24 e 25, da referida revista. A entrevista, conduzida por Rui Oliveira Martins, tem como título uma citação da directora de Marketing, Teresa Figueiredo – “O marketing tem uma importância estratégica”.

Com 52 lojas, a Bertrand pretende abrir todos os anos quatro a cinco lojas para reforçar a sua presença nacional. Há dois meses à frente do marketing, Teresa Figueredo explica a estratégia da marca.

Após passar 12 anos na Lever, onde trabalhou a produtos pessoais e detergentes e de cinco anos no marketing para empresas da PT Comunicações, Teresa Figueiredo assumiu há dois meses o marketing das livrarias da Bertrand. A reabertura, com novas funcionalidades na loja das Amoreiras, é o pretexto para analisar a estratégia da marca, que detém 52 lojas, das quais 44 estão localizadas em galerias ou centros comerciais.



Meios e Publicidade (M&P): Na próxima segunda-feira vai ser apresentado um novo conceito de lojas nas Amoreiras. Em que vai consistir?
Teresa Figueiredo (TF): As Amoreiras representam uma mudança no conceito de loja e de espaço, já que vai ser aberta para fora e a área de crianças passou para a frente da loja e é mais interactiva. É ainda uma loja emblemática pela sua localização. As Amoreiras vão manter os serviços que tinham antes, mas o espaço vai ser duplicado e a vivência da loja vai mudar muito. Vamos ter espaço para as pessoas estarem sentadas. Todo o espaço é muito agradável e na óptica de estimular a presença na loja. O shopping das Amoreiras representa nos tempos modernos um ponto de confluência de Lisboa. Já temos outras lojas modernas e com boa área, como as do Vasco da Gama e das Antas.

M&P: Este conceito será alargado a mais espaços?

TF: Temos estado a modernizá-las. Obviamente cada vez que abro uma loja nova introduzo mais algum factor de modernidade.

M&P: Até que ponto a compra da Bertrand por parte da Bertelsmann está a condicionar esta mudança nas lojas? Que know-how internacional é que está a ser utilizado?
TF: Com o ritmo a que temos aberto as lojas no passado, acreditamos que temos um know how próprio. A Bertelsmann veio dar força a esta visão e a este ritmo de abertura. Foi mais um esforço do que ter trazido know how.

M&P: Qual é que está a ser o ritmo de abertura de lojas?
TF: Estamos a caminhar para uma cobertura nacional representativa. Queremos abrir quatro a cinco lojas por ano e estamos a fazer as remodelações necessárias em lojas mais antigas, que precisam de um refresh e de adoptar essa linguagem. Em alguns casos podem acontecer trocas. Se estou com uma área pequena numa zona ou num centro comercial posso trocar de sítio ou fazer, como nas Amoreiras, a aquisição de uma loja ao lado. Haverá aberturas, remodelações e expansões sempre que façam sentido.

M&P: Mas afinal o que une lojas com tamanhos e características tão diferentes? A do Vasco da Gama tem café, a das Amoreiras vende jornais e revistas e as de Braga não têm nenhum destes serviços complementares.
TF: Ter café ou não, depende da área envolvente. Nas Amoreiras há muitos pontos de café. No Vasco da Gama tornou-se essa opção e corre bem, mas o primeiro critério é o espaço disponível, mas pode haver outras razões. Em relação ao press center, nas Amoreiras havia espaço para isso, enquanto no Vasco da Gama não.

M&P: Ter um café numa loja ajuda às vendas?

TF: Em princípio, sim. Tudo o que leva as pessoas para as lojas, o que as leva a permanecer e o próprio display dos livros potenciam um acto de compra posterior. Em termos de retalho, o que ambicionamos, é ter capacidade de atracção e de retenção das pessoas dentro da loja. A partir daí cabe-nos induzir um acto de compra, mas o primeiro factor é fazer as pessoas entrar na loja. Num espaço como um centro comercial, onde as pessoas muitas vezes frequentam numa óptica lúdica e entram em duas ou três lojas para se distraírem, tudo é pensado para atrair as pessoas.

M&P: Num espaço tão concorrencial como os centros comerciais, o que faz para conseguir chamar as pessoas?
TF: Há os básicos não tangíveis. Todo o aspecto da loja, em termos de arquitectura e design, tem de atrair as pessoas para dentro da loja. Cito o exemplo da Zara, que não faz eventos, publicidade, nem dá chocolates dentro da loja, mas onde toda a estética é simpática e clean. E isso funciona. As pessoas entram na loja só para dar uma volta e saem com uma peça. No nosso caso e nos nossos produtos, tem de haver cuidado em trabalhar zonas quentes e zonas frias para que nas zonas quentes estejam os produtos adequados que levem as pessoas a entrar. Ali têm de estar as novidades, os livros mais vendidos, que devem estar em zonas de grande visibilidade. Depois todas as coisas de serviços, como café, Internet, levantamento de bilhetes ou press center, podem ser geradores de tráfego. Há também um aspecto de eventos que podemos trabalhar, como sessões de autógrafos, lançamentos de livros, actividades para crianças, que levam as pessoas para dentro das lojas e as faz permanecer. Uma coisa que não tem sido feito, e que pode ser interessante, é fazer experiência cruzadas com outros sectores, por exemplo, degustações de um novo vinho, um lançamento de perfumes ou eventos com os media.

M&P: Quem é o cliente tipo da Bertrand?
TF: Temos o cartão leitor Bertrand que nos dá alguma informação sobre esse perfil. Temos perfis heterogéneos, mas posso dizer, como curiosidade, que as mulheres compram mais do que os homens.

M&P: Quando a Bertelsmann comprou a Bertrand foi anunciada a expansão para Espanha. Em que ponto está este trajecto?
TF: Espanha já tem lojas abertas e tem um plano de expansão, mas é um projecto autónomo, que não está integrado na nossa estrutura. Portugal fez um trabalho de consultoria e ajudou no lançamento do conceito, abertura de lojas e exposição, mas não tem responsabilidade de gestão.

M&P: A entrada da Bertelsmann alterou a sua forma de comunicar?

TF: Não estava cá antes, mas é óbvio que alterou. Quando há um grupo multinacional há sempre algo que se altera. O grupo entrou na Bertrand com o foco de gerar crescimento. Em termos de comunicação, há enfoque no marketing e uma clara consciência de que o marketing tem de ser um Sales driver, trabalhando a loja para que a experiência em loja seja o mais rica possível. Dantes não estava a ser tão estrategicamente trabalhado. Há um passo em frente, com este reconhecimento de que o marketing tem uma importância estratégica na empresa.

M&P: Antes desta entrevista, falei com algumas pessoas sobre a Bertrand que disseram que a imagem de livraria de fundo de catálogo estava a desaparecer, para se transformar em ponto de venda em centros comerciais. É esse o caminho?

TF: Não. É continuar a ter uma oferta abrangente e alargada em termos de cobertura de diversos segmentos. O que nos diferencia, de facto, é o serviço, o conhecimento livreiro e a capacidade de ter uma oferta ampla. Mas existe também outra dinâmica de mercado. Há 10 anos não existia essa excitação e movimentação em relação às novidades que estão a sair, ao “reserve já”, ao “seja o primeiro a ler o último livro do Harry Potter ou do Sousa Tavares”. Todo este movimento dá dinamismo ao mercado e alegria às lojas. Como reflexo disso, temos de dar espaço de exposição às novidades e reflectir uma orientação para o consumidor.

M&P: O core business da Bertrand serão sempre os livros?
TF: Sim. O nosso core continuam a ser os livros, mas a Internet é um canal de vendas que não podemos ignorar. Sendo que o nosso core são os livros e o retalho, nunca trabalharei para montar uma operação Internet que concorra com as lojas ou venha a ter o domínio. Mas quero trabalhar a Internet porque para os clientes é importante ter essa alternativa. Por isso, quero fazer uma aposta séria, mas o meu foco e preocupação em termos de encontrar novos conceitos serão concentrados nas lojas.

M&P: Qual a percentagem de vendas na Internet?
TF: É residual. Até porque não estamos a trabalhar o site activamente. Temos um projecto para o próximo ano, para reactivar o site, mas sempre numa óptica de que será algo complementar.

M&P: Que sinergias existem com o Círculo de Leitores, já que pertencem ao mesmo grupo?
TF: O facto de termos o shop in shop mostra que existem sinergias e uma visão de que podemos beneficiar daquilo que ambos temos. Existe uma visão clara de sinergia. O shop in shop são as lojas Círculo que estão dentro das lojas Bertrand, onde são angariados sócios para o Círculo. As pessoas podem tornar-se sócias sem esperar que um agente bata à porta. Em termos de angariação, o Círculo está a apostar em novos caminhos. Para a Bertrand é óptimo porque a partir do momento em que alguém vai ao shop in shop está nas nossas lojas e isso é sempre positivo.

M&P: Quantos pontos do Círculo serão instalados na Bertrand?
TF: Tantos quantos forem possível, assim que a dimensão das lojas o permita. Nas lojas mais pequenas pode não fazer sentido.

M&P: Afinal, a Bertrand é uma loja ou uma livraria?
TF: Depende de como entendemos livraria. Se sinónimo daquele sítio pouco envolvente, com teias de aranha e pouco excitante, a Bertrand não é uma livraria. Agora, a ideia de livraria não tem de ser negativa, é uma loja onde vendo livros e tenho um ambiente agradável. Somos uma loja no sentido em que vendemos livros. Mas face ao passado, somos uma livraria no sentido de divulgar os livros e de ter como missão fazer chegar os livros a todo o lado e de divulgar os autores e a leitura. Dizer que somos apenas uma loja seria redutor.

Acordo Ortográfico, Nuno Amaral (Rio de Janeiro)

30.11.07
Continuamos a publicar o destaque do Público de ontem. O primeiro post deste extenso artigo do Público de ontem pode ser encontrado aqui. Hoje publicamos um texto de Nuno Amaral, que tem o título "No país sem consoantes mudas espera-se por Portugal para avançar".

«
Em teoria, as alterações previstas já transbordam para o quotidiano do Brasil. No plano das intenções, o país com 187 milhões de pessoas a falar português queria formalizar a entrada em vigor do Acordo Ortográfico já em 2008. E deu sinais nesse sentido. O desaparecimento do trema, por exemplo, foi decretado no final do ano passado. A extinção dos dois pontos em cima do "u" é um dos indícios dessa vontade. Na prática, o Brasil está à espera. O léxico diplomático ajuda a ocultar alguma saturação com os impasses do outro lado do Atlântico.

"A gente quer marchar com Portugal. E não avançar sem ele, isso não faria sentido", disse ao PÚBLICO Godofredo Oliveira Neto, que preside ao organismo responsável pela concretização do acordo, a Comissão para Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip).

O Brasil podia já ter avançado, uma vez que o acordo já foi ratificado por mais de três países, limite mínimo estabelecido pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)." Diplomaticamente, nós reavaliámos a situação e constatámos que o acordo, que era algo para unificar a ortografia, já nasceria desunido, se o acto de adopção fosse isolado", vinca.

A classe académica é mais contundente na reacção. "A indefinição de Portugal está a emperrar todo o processo. Não se percebe e não quero admitir que os adiamentos sejam motivados pelos receios de "brasileirização" da língua", solta Emerson Inácio, professor de Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo. As editoras preparavam-se para avançar com as alterações em Dezembro, final do período lectivo no Brasil.

O impasse é, então, político. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores do Brasil evitou responder se o país avançaria sem Portugal. Sintetizou apenas o sentimento que povoa alguns sectores "Seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando se formalizar a adopção do Acordo Ortográfico", referiu. Na maioria dos casos, os membros do Governo de Lula da Silva evitam o tema.


"Oi?"
Pelas ruas do Rio de Janeiro, apenas com algumas excepções, as perguntas esbarram num invariável "oi" interrogativo. "Acordo quê?" Ou "Ah sim, aquilo da escrita, não é?"

Alberto Fonseca sabe do que se fala. "Se for para melhorar, para pôr tudo igual, acho muito bem", atira do balcão da lanchonete que possui junto à Praça da Cinelândia, no centro do Rio. "Outro acordo?", pergunta o taxista Adilson Costa. "Eu só não sei é para quê, falamos todos português. Só muda o sotaque."

A percepção (perceção), e o próprio vocabulário ganham outra espessura na zona sul da cidade. Nos bairros de Ipanema, Copacabana e Leblon o tema é familiar. "É uma bobagem essa ideia utópica de que o acordo vai transformar o português numa língua de relações internacionais", reage o médico Adalberto Iguateri. "Se era para mexer, deviam ter ido mais longe, é uma reforma acanhada", reforça. Sentada numa das esplanadas de Copacabana, Alice Dias folheia um livro. "Você sabia que o Saramago não necessitou ser "traduzido" para ser um best-seller no Brasil. Nem a outra senhora mais nova..." Concluiu-se que falava de Inês Pedrosa. "Eu acho muito bem, a língua é um património comum, deve unificar-se na forma escrita. Depois, pode ter vários sotaques." Alice Dias já foi professora, mas de Biologia.

Amiúde, o embaixador português Francisco Seixas da Costa participa em programas de televisão e escreve artigos de opinião sobre o assunto, desvalorizando o atraso e criticando alguma dramatização, "como se uns anos a mais ou a menos na conclusão de um texto trouxessem algum mal ao mundo, que viveu sem ele até agora", escrevia em Setembro (setembro) no jornal Estado de São Paulo.


O dedo no horizonte
Além do moribundo trema, a reforma acaba também com os acentos de "vôo", "lêem", "heróico". E premeia a semântica brasileira, que vê a extinção do "p", em prática no país, instituída.

Pequenas mudanças, vinca o também escritor Godofredo Neto. Mas com grande simbolismo, acrescenta. "São inúmeras as vantagens que advêm da efectiva (efetiva) adopção das normas já acordadas. Em primeiro lugar, a promoção e a funcionalidade do uso da língua portuguesa nos fóruns internacionais, por exemplo." Neto diz que não se cansa de alertar para a vacuidade dos "velhos do Restelo" da língua portuguesa. "A unificação ortográfica não atenta contra a variedade da língua oral, nem contra a riqueza das manifestações culturais que a língua veicula."

Emerson Inácio concorda. Acredita que a sala de aula será o melhor laboratório. "Não tenho dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade vai acompanhar as mudanças. Vai levar tempo, como ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor gradualmente."

O pior são os custos. Os editores consideram-se os perdedores do acordo. Estima-se que o custo médio de revisão de um livro possa atingir os cinco mil reais (18 mil euros). "A minha editora é pequena, mas vou ter de gastar um balúrdio. Espero é que a reforma venha para ficar", disse ao PÚBLICO Jerson Andrade, da editora Estandarte, do Rio de Janeiro.

Para atenuar os receios causados por estas consequências, o presidente da Colip aponta para o horizonte. "Vai exigir ginástica, vai implicar investimentos, mas é um legado que deixamos à história. Afinal, somos a terceira língua mais falada do mundo ocidental." »

Acordo ortográfico, artigo de Alexandra Prado Coelho

29.11.07

Reproduzimos aqui o destaque de hoje do Jornal Público, páginas 2 a 4, dedicado ao acordo ortográfico. A peça foi elaborada por Alexandra Prado Coelho.

«Catástrofe", um "favor ao Brasil" ou uma oportunidade?

"Os brasileiros têm um problema, nós não. Isto é um favor que a diplomacia portuguesa está a fazer à brasileira, e é triste que a língua sirva de moeda de troca" Vasco Teixeira, editor português

Passaram-se 17 anos e o Acordo Ortográfico entre os países de língua portuguesa - que, segundo anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, vai ser ratificado até ao final do ano, com uma moratória de dez anos para a entrada em vigor em Portugal - continua tão polémico como sempre.

É "catastrófico no plano científico, económico e geoestratégico", garante o escritor e tradutor Vasco Graça Moura sobre este esforço para aproximar as grafias usadas por um lado por Portugal, os países africanos e Timor da grafia usada pelo Brasil. Resulta de "uma falta de visão estratégica", diz Vasco Teixeira, presidente da Porto Editora. É "bom para todos", defende o escritor José Eduardo Agualusa. É, essencialmente, "uma questão política", afirma o linguista Ivo Castro.

Desde o anúncio de Luís Amado que muitos portugueses se interrogam sobre as razões que levaram a despertar o acordo que parecia adormecido desde 1990. A verdade é que não estava tão adormecido como isso - em 2006 Cabo Verde e São Tomé ratificaram-no, juntando-se assim ao Brasil. Isto significa que já existem as três ratificações necessárias para que o acordo entre em vigor imediatamente nesses países, o que fez aumentar a pressão sobre Portugal para que ratificasse também.


O que farão os africanos?
A grande incógnita depois é o que farão os restantes países - Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste. E não é uma questão secundária. Ivo Castro avisa: "Se Portugal aderir sem previamente se assegurar que os restantes aderem, estará a romper a união ortográfica com Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor. Não sei até que ponto isso é compensado pela hipótese de uma união ortográfica com o Brasil." O linguista está convencido de que "Angola é o país que menos interessado está na ortografia".

Opinião diametralmente oposta é a de Agualusa, que não compreende "a oposição que tem havido em Portugal ao acordo". O escritor angolano, que vive entre Angola, Portugal e o Brasil, acha que "para um país como Angola é muito importante aplicar o acordo, porque este vai fazer aumentar a circulação do livro e facilitar a aprendizagem e a alfabetização, que é, neste momento, a coisa mais premente para Angola e Moçambique". Defendendo que, "se Portugal não quiser o acordo, então Angola deve avançar e Portugal fica isolado", Agualusa mostra-se convencido de que, "se o Brasil avançar, Angola não vai demorar muito tempo".


O mercado do livro escolar
Neste momento, em Angola o processo está a ser estudado pelos ministérios da Educação e Relações Exteriores, após o que terá que ir a Conselho de Ministros e ao Parlamento para aprovação, disse ao PÚBLICO o adido de imprensa da embaixada em Lisboa, Estevão Alberto - informação que confirma que, pelo menos, o acordo não está "adormecido".

Uma das questões centrais de todo este debate é fácil de perceber: os países africanos de língua oficial portuguesa, sobretudo Angola e Moçambique, são importantes mercados para os livros (os escolares, em primeiro lugar), que neste momento são fornecidos por Portugal. Um acordo ortográfico deixaria o Brasil numa situação muito mais favorável para entrar nesses mercados.

Vasco Teixeira, presidente da Porto Editora (que, juntamente com a Texto Editora, fornece a maioria dos manuais escolares a Angola e Moçambique), admite que essa questão é importante, mas julga que "as editoras [portuguesas] nalguns casos até poderão ganhar". Contudo, o que está em causa "não é um problema de negócios", mas sim "uma visão estratégica para a língua portuguesa". E sublinha: "Os brasileiros têm um problema, nós não temos. Isto é um favor que a diplomacia portuguesa está a fazer à brasileira, e é triste que a língua sirva de moeda de troca entre diplomacias."

O acordo "abre a porta ao Brasil nos países africanos, onde até agora não conseguiram entrar", diz Vasco Graça Moura. "Isto serve para beneficiar a indústria editorial brasileira. Como eles já têm tudo adaptado ao acordo, assim que entrar em vigor avançam imediatamente. Nós já temos uma edição pelas ruas da amargura e vamos ficar com ela pior." As alterações no Brasil afectam apenas 0,5 por cento das palavras e em Portugal 1,6 por cento.


Aproveitar o Brasil

É tudo uma questão de saber aproveitar as oportunidades, contrapõe Agualusa, para quem o acordo abre a Portugal o mercado brasileiro. "Uma das áreas em que Portugal é muito superior ao Brasil é na dos livros para crianças, só que não investe nisso." Além disso, "80 por cento dos livros no Brasil ficam no Rio de Janeiro e em São Paulo", o que deixa todo o resto do país de 180 milhões por explorar.

Para ser aprovado, o acordo tem ainda que passar pelo Conselho de Ministros e pelo Parlamento. A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, disse na terça-feira que o seu ministério, em conjunto com o da Educação, defenderam a moratória de dez anos, que foi aceite pelo MNE, "para proceder à sensibilização dos editores" e preparar a introdução do acordo nas escolas.

Ninguém sabe exactamente (o PÚBLICO pediu essa informação ao Ministério da Educação, mas não recebeu resposta em tempo útil) quando é que o acordo começará a ser aplicado nas escolas, mas a moratória de dez anos visa precisamente evitar os custos da substituição imediata dos manuais escolares.

Mas o que acontecerá, se, de repente, os países que ainda não ratificaram decidirem acelerar o processo e adoptar a nova grafia num prazo mais curto que os dez anos? "Se isso acontecer", disse Pires de Lima, "Portugal reverá a sua posição e procurará ser mais célere."


Amanhã, retirado ainda deste destaque, publicaremos um artigo de Nuno Amaral (Rio de Janeiro) e posteriormente o balanço de argumentos a favor e contra o acordo ortográfico, bem como uma pequena súmula de alterações que se vão verificar.

Bloguedenota

29.11.07
O Blogtailors sempre publicou e respondeu a comentários anónimos, desde que os mesmos tenham sido estruturados de forma construtiva, com o intuito de dialogar e ajudar a resolver os problemas do sector. Por esse motivo, e devido a vários comentários menos construtivos que têm sido colocados, a Booktailors vem reafirmar a sua posição, e evidenciar a possibilidade de recusar comentários com tom injurioso ou contrários aos princípios que tem tentado fomentar.

Polémica Sousa Tavares e Pulido Valente - a visão de Ricardo Araújo Pereira

29.11.07
Publicado hoje, na Visão, sob o título 'Araújo Pereira leu a crítica de Pulido Valente e não gostou', página 162. Um artigo de Ricardo Araújo Pereira, dos Gato Fedorento.

Quem lamenta que a crítica literária já não tenha espaço nos jornais teve esta semana uma pequena alegria: o Público decidou quatro páginas inteiras à critica de Vasco Pulido Valente ao mais recente romance de Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores (Oficina do Livro, 627 páginas, dois quilos e trezentos). A razão de a alegria ser pequena é esta: Pulido Valente não é exactamente um crítico literário, nem se pode chamar crítica literária àquilo que ele escreveu. Mas sempre foi melhor que nada.

Talvez seja bom enquadrar o caso. Enquanto crítico literário, Vasco Pulido Valente é conhecido por gostar muito de Eça de Queirós e do Adeus, princesa. Como escritor, Sousa Tavares ficou célebre por ter escrito Equador (Oficina do Livro, 421 páginas, um quilo setecentos e cinquenta) e por ter dito que Pulido Valente era desonesto por ter criticado o livro sem o ler. Sousa Tavares escreve histórias cuja acção decorre no final do século XIX e no início do século XX, o que acaba por ser imprudente uma vez que Pulido Valente sabe mais sobre esse período do que as pessoas que o viveram, e irrita-se se alguém mexe na História de Portugal sem lhe pedir autorização.

Vamos por partes. O problema da crítica de Pulido Valente começa desde logo no modo como foi publicada. A capa do suplemento do Público anunciava: «Vasco Pulido Valente leu o último livro de Miguel Sousa Tavares e não gostou.» Ninguém precisa de ter estudado jornalismo para perceber o erro que aqui se cometeu. Isto não é notícia de capa em lado nenhum. Material de primeira página seria o Vasco Pulido Valente ter gostado de uma coisa qualquer.

Por outro lado, Vasco Pulido Valente acusa Sousa Tavares de escrever sobre um assunto acerca do qual não percebe nada. Também não é novidade. Quem lê as crónicas de Sousa Tavares no jornal A Bola tem conhecimento disso há anos. Que os leitores d'A Bola saibam mais do que Vasco Pulido Valente, essa sim, é uma questão preocupante que nos deve fazer reflectir.

Quarto problema: segundo o Pulido Valente, o livro está mal escrito e contem algumas imprecisões históricas graves. No entanto, a mulher de Pulido Valente recebeu uma mensagem SMS de Sousa Tavares em que este ameaçava «dar cabo» de Pulido Valente. Na crítica, Pulido Valente revela o teor da mensagem mas não refere qualquer imprecisão histórica ou erro de sintaxe no SMS que Sousa Tavares mandou à mulher, o que pode significar que o autor de Equador escreve melhor quando está enervado e dispõe de apenas 160 caracteres. Só por má vontade Pulido Valente não terá feito essa justiça a Sousa Tavares na crítica. Em seiscentas e tal páginas também eu sou capaz de encontrar frases canhestras e factos truncados e fazer um estardalhaço com isso. Mas a verdade é que Sousa Tavares escreveu um SMS que é, pelos vistos, irrepreensível, e Pulido Valente, em quatro páginas, nem uma nota de rodapé dedica ao poder de decisão do homem. Pode escrever maus romances, mas domina as formas breves. Não notar ao menos isto já não é crítica, é embirração.

Byblos

29.11.07
Hoje, na Visão, páginas 142 e 144, um artigo sobre a abertura da loja Byblos, com o título "Vou realizar mais um sonho", citação de Américo Areal. Um trabalho de Cesaltina Pinto.

«Américo Areal chegou a casa e confessou à mulher: «Tive uma proposta aliciante de compra da editora.» «Quer respondeste?» «Que não.» A mulher fez cara feia: «Mas nunca foste egoísta na vida! Porque estás a ser agora?» O raciocínio dela era simples: «Quando morreres, vais satisfeito. Fizeste o que quiseste, a vida toda. Mas nem os teus filhos nem eu temos as tuas capacidades para prosseguir com este negócio. Como ficam os teus filhos, se morreres agora?» Américo, 56 anos de vida e 33 de casado, pôs-se a matutar. «Eu, que gaguejo, perdi a fala.» A mensagem da mulher ficou a processar. Muito mais quando, na semana seguinte, se sucederam as propostas.

A do Paes do Amaral revelou-se irrecusável, e o negócio fez-se por muitos milhões de euros (o número exacto ficou em segredo.). A Asa editora saía, pela primeira vez, da família que a fundou. «Era a altura certa para sair», diz Américo Areal, filho do fundador, Américo da Silva Areal. «Já andava com bastante falta de paciência…»

Este descanso-alívio durou pouco. «Era a primeira vez na vida que tinha dinheiro e não tinha empresa. Vi-me reformado. Comecei a ficar triste, corcovado…» Fez novo acordo com a mulher: dividiu o dinheiro com ela e os três filhos – duas raparigas e um rapaz, licenciados em Gestão. A mais velha, de 31 anos, fundou uma empresa de coaching. A do meio, de 27, é a única que trabalha com o pai, como directora de marketing. O rapaz, de 23 anos, é auditor na KPMG. A parte que lhe coube, Américo investiu-a em livraria com um novo conceito – a primeira abre no dia 6 de de Dezembro, em Lisboa. Disse à mulher: «Vou realizar mais um sonho. Tu não terás mais problemas financeiros na vida. E a mim, o pior que pode acontecer é perder o que estou a investir. Se perder, vou viver à tua custa. Mas, à noite, já só preciso de uma sopa.»

Depois de ter sido gráfico e editor, Américo Areal entra em força no retalho. É, por agora, o único rosto da Livrarias Peculiares S.A., detentora da Byblos. E como gosta de manter o seu low profile, assegura que, logo após a inauguração, voltará a esconder-se. No futuro, prevê, hão-de aparecer novos sócios para o substituir na fotografia.


Todos os livros
«Já não sei a quantas ando.» Cansado e stressado, senta-se no seu gabinete, no Porto, à frente de um quadro de Júlio Resende que retrata o pai. O telemóvel está imparável, interrompendo várias vezes a conversa em que explica as novidades que introduzirá no mercado livreiro. Visitou, com olhos profissionais, as melhores livrarias no mundo. Levou os seus directores ao Japão, América do Norte, Holanda, Alemanha. «A pergunta que cada um tinha de fazer era: o que desejo enquanto leitor» Estabeleceu um novo e transparente modelo de negociação entre editores e livreiros e aproveitou ao máximo as novas tecnologias. Depois da entrada dos livros nos hipermercados, do modelo Fnac e das livrarias associadas a editoras, faltava algo que reunisse tudo isto e ainda acrescentasse algo. «É preciso haver sempre um tolinho, para fazer com que o futuro surja mais cedo.» E assim apareceu a Byblos.

Américo quer contrariar «a lógica capitalista» que dá prioridade aos livros recentes e de grande rotação. «Quero ter a totalidade dos livros editados em Portugal e até deixar espaço para edições de autor.» Alargam-se corredores, abrem-se várias zonas de leitura diferentes, multiplicam-se os factores de interesse, tudo para que o visitante prolongue o seu tempo médio de permanência. «Tem de se atender bem quem compra e quem não compra. Como o velhinho que vai lá todas as manhãs ler o seu livro. Este leitor raramente compra um livro para si, mas sempre que quer dar um presente, oferece um livro dos que já leu.»

O sistema informático será um dos trunfos – tanto na gestão do stock como na relação do leitor com o livro, e até na forma de pagamento. O software é holandês; a arquitectura interior é de uma empresa alemã vocacionada para livrarias. Promete-se show-off. Mas deixemos que as visitas de cada um testem a eficácia esperada.


O direito de não ler
O telemóvel toca pela enésima vez.

«Ahhhhhh Yes, Yes, Excelente! Maravilha! Deixei de ficar tenso…» grita, com a maior felicidade do mundo. Algo que era fonte de grande preocupação acabou bem resolvido. O sorriso impôs-se-lhe no rosto, tornando-o ainda mais redondo. Américo Areal distende-se na cadeira e, agora sim, pode recordar os velhos tempos. Conta que, aos 6 anos, já conhecia todos os cantos à gráfica da Asa. Afinal, o pai fundou a empresa em 1951, ano do seu nascimento.

Descendente de gente humilde da freguesia da freguesia da Agrela, Santo Tirso, o pai, Américo da Silva Areal, tinha oito irmãos. Estudou no seminário até ao 10º ano, e empregou-se como contínuo residente no Colégio Broteiro, na Foz do Porto. «Conseguiu tirar o curso de professor primário e, mais tarde, a sua primeira licenciatura, em Geologia. Fazia resumos das lições, reproduzia-os e vendia-os. De contínuo passou a professor, e depois a autor de livros escolares», resume o filho. Acabou por tirar sete licenciaturas, até aos 58 anos. Morreu aos 61. Passou pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, apoiou Humberto Delgado, viveu as alegrias da queda do fascismo. Mas, em 1975, o gonçalvismo deixou-lhe um amargo de boca. Morreu logo a seguir, tinha Américo 23 anos. Nos primeiros sete anos após a morte do pai, Américo contou com o apoio da irmã Zita, na gráfica e na editora. Apesar de formada em Arquitectura, Zita havia de criar a sua própria editora, a Areal, depois vendida à Porto Editora. Com a liberdade e o fim da política do livro único, a Asa prospera, sustentada pelos livros escolares. Para trás ficaram três falências, provocadas pela PIDE. Sorte foi que a mãe, Maria Olímpia Correia, era filha de agricultores abastados. «Tinha terras que deram para pagar três falências. Na terceira, ficaram os roupeiros e as camas.»

Américo filho gostava de ter sido ginecologista, mas o pai convenceu-o a optar por um curso técnico. Foi até ao 3º ano de Economia, mas não terminou o curso.

A Asa chegou a editar 400 livros por ano. Por isso, Américo não tem hoje paciência para ler um livro do princípio ao fim. «Um dos direitos do leitor é o de não ler, ou de saltar páginas», observa. Edita-se demasiado em Portugal? Encolhe os ombros. «Corresponde a uma multiplicidade de interesses. Contei a um taxista que ia abrir uma grande livraria. Perguntou-me logo se tinha livros sobre doenças de peixes. Respondi ‘Com certeza. Em Dezembro apareça por lá’. Terei mesmo de arranjar alguma coisa sobre doenças de peixes.


Byblos ponto a ponto [caixa]
- Inaugura-se a 6 de Dezembro, em Lisboa, no Edifício Amoreiras Square
- 3300 metros quadrados, só de área comercial
- Terá um vitrinista e um decorador de montras
- 150 mil títulos de fundo editorial, mais um conjunto de CD / DVD / Jogos de computador
- Quiosque com 260 metros quadrados
- 36 ecrãs tácteis, para que cada um possa pesquisar um título ou um autor e descobrir a sua localização exacta
- Cada estante robotizada terá capacidade para 65 mil exemplares
- 11 montras, com plasmas e possibilidade de consultas a partir da rua
- Auditório com 157 lugares sentados e outros tantos de pé, onde, a partir de Março, haverá as semanas temáticas
- O cartão da Byblos dará acesso a um site personalizado do cliente assim como acumulação de pontos
- 4 milhões de euros de investimento
- 60 mil euros / mês aluguer
- 40 a 50 funcionários na sede, no Porto
- 35 a 40 pessoas na livraria
- No próximo ano, nascerá, pelo menos, mais uma Byblos. A do Porto

Edição em Desassossego, na Casa Fernando Pessoa

29.11.07

Hoje, pelas 21h30, na Casa Fernando Pessoa, com moderação de Carlos Vaz Marques.

QUE IMAGEM TRAZEM DO OUTRO AS RELAÇÕES CULTURAIS PORTUGAL/BRASIL?
Há duzentos anos, ameaçada pelas invasões napoleónicas, a Corte portuguesa atravessou o Atlântico e fez do Rio de Janeiro a capital do Império. Dois séculos depois diversos escritores portugueses têm vindo a redescobrir o Brasil em obras de ficção.

Na sessão de Novembro dos Livros em Desassossego, o crítico e professor universitário Abel Barros Baptista, o sociólogo Ivan Nunes e os escritores Miguel Real e Francisco José Viegas debatem o estado actual das relações culturais e literárias entre Portugal e o Brasil.

Antes, Hugo Xavier, coordenador editorial da Cavalo de Ferro, escolhe três livros recentemente editados que gostava de ter visto publicados na editora de que é um dos responsáveis.

Quimera Editores - Novo Website

28.11.07
A Quimera Editores lançou um novo website.

A editora, que leva já 20 anos de vida e é a referência de publicações na área da Olisipografia, aparece assim de cara lavada na web.

O grande ênfase é feito sobre o catálogo. O que faz sentido, dado que este website além de uma presença institucional, funciona igualmente como loja.

Mas ali podemos encontrar ainda promoções especiais, um destaque aos autores da casa e uma fabulosa galeria de imagens (exemplo 1; 2; 3; ...), produto das publicações da editora.

Somos ainda convidados a deixar o nosso contacto de e-mail para envio posterior de informação relacionada com a editora.

Lançamento da obra «O Papel e o Pixel», José Afonso Furtado

27.11.07
A não perder, hoje, pelas 18h30 na Casa Fernando Pessoa, o lançamento da obra O Papel e o Pixel, de José Afonso Furtado.

A propósito das temáticas abordadas nesta obra, recorde-se a entrevista exclusiva dada por José Afonso Furtado ao Blogtailors, publicada na passada sexta-feira, aqui.

A obra será apresentada pelo Professor João Caraça.
Doutorado em Física Nuclear (Oxford) e agregado em Física (Lisboa), João Caraça é Director do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian e Professor catedrático convidado do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa onde, entre outras funções, coordenou o Mestrado em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia (1990-2003).

Consultor para a Ciência do Presidente da República (1996-2006) é autor de mais de uma centena e meia de trabalhos científicos. Os seus interesses centram-se nas áreas da política científica e tecnológica e da prospectiva. Publicou Do Saber ao Fazer: Porquê Organizar a Ciência (1993), Ciência (1997), Science et Communication (1999), Entre a Ciência e a Consciência (2002) e À Procura do Portugal Moderno (2003). Participou na redacção de Limites à Competição (1994) e na organização de O Futuro Tecnológico (1999). Colaborou no livro A nova primavera do político (2007).

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