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Blogtailors - o blogue da edição

Agenda do Livro - Booktour

03.12.07
O Blogtailors conta desde sábado com uma nova rubrica, uma Agenda do Livro de seu nome Booktour. A mesma pode ser encontrada no final do blogue (isso mesmo é fazer scroll mesmo até ao fundo). Está ainda na fase-beta, mas já dá para perceber do que se trata.

Como, antes de sermos todos profissionais do sector, somos apaixonados do livro, decidimos criar este planning no qual serão referenciados eventos relacionados com o sector do livro. Um debate, um ciclo de conferências, um lançamento de uma obra, por exemplo. Aliás, a questão dos lançamentos foi o que nos levou a criar esta plataforma, pois temos recebido diversos e-mails por parte de editores que nos solicitam divulgação dos seus lançamentos. Contudo, dado que esse não é o enfoque do blogtailors, até aqui não temos dado seguimento a esses apelos.

A consulta deste planning poderá ser feita de forma global, tendo acesso a todos os eventos ali anunciados (função agenda), à semana e ao mês. Basta seleccionar a opção pretendida no canto superior direito.

Pedimos p.f. a todos aqueles que queiram dar sugestões de eventos que nos enviem essa informação para publicação. Os e-mails deverão ser enviados para info@booktailors.com. Para podermos gerir a informação da melhor forma possível, pedimos que esta chegue formatada da seguinte forma:

Campo de assunto do e-mail: Data. Hora: Designação do evento. Local.
Ex: 27.11.2007. 18h30: Lançamento da obra O Papel e o Pixel, de José Afonso Furtado. Na casa Fernando Pessoa.

Corpo de e-mail: envio de toda a restante informação sobre o evento.

PIRLS

03.12.07
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Muito se tem falado de literacia, não só a relacionada com a leitura, mas também da incapacidade de compreender diferentes temáticas essenciais na sociedade de hoje. Nesse campo, o papel fulcral das escolas é desde sempre referido, assim como a necessidade de melhorar os sistemas de forma aumentar a capacidade dos nossos alunos para se prepararem para uma sociedade cada vez mais competitiva.
Em relação à leitura, já alguns editores, como Nelson de Matos, identificaram esse como um dos graves problemas do não crescimento do público potencial real, sendo que vale a pena ler um pouco o que vem a seguir.

Independentemente das avaliações mais ou menos mediáticas que vão surgindo nos órgãos de comunicação, que procuram avaliar a capacidade de entendimento (ou de ensino, na maior parte das vezes) das matérias por parte dos alunos, existem algumas instituições que levam bastante a sério esse trabalho e procuram fortalecer as políticas educacionais dos diferentes países.
De entre essas instituições destaca-se a PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), da IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement).
Fundada em 2001, a PIRLS vai publicando de 5 em 5 anos estudos de fundo sobre literacia nas escolas, sendo que 2007 foi um desses anos (resultados relativos ao estudo PIRLS 2006). Este estudo comparativo abrange um universo de mais de 40 países distintos, com diferentes sistemas educativos, restringindo-se ao final do primeiro ciclo (crianças com 9-10 anos de idade, em média). Estranhamente, ou talvez nem tanto, é o facto de Portugal não figurar neste estudo.

Assim, neste link http://timss.bc.edu/PDF/p06_international_report.pdf encontrarão um ficheiro grande – para cima de 63 megas – com um estudo igualmente grande – 438 páginas – mas também de enorme valor para quem se preocupa por estas questões ou, somente, pelo futuro da humanidade.

Será que podemos esperar surgir no PIRLS 2011?

Entrevista a Anna Manso Pinheiro, na Os Meus Livros

03.12.07
A revista Os Meus Livros publica na edição deste mês, páginas 54 a 57, uma entrevista a Anna Manso Pinheiro, filha do fundador da Editorial Estampa. A peça é assinada por João Morales, contando com fotografias de Artur.

Destacamos uma resposta:
João Morales: (...) Nos últimos meses regista-se uma forte presença dos livros da Editorial Estampa nas livrarias. É uma acaso ou houve alguma mudança na estratégia de distribuição?
Houve, isto tem sido uma luta minha, há muito anos. A minha formação é em marketing organizacional (...)e sempre percebi muito bem a importância do marketing na vida de uma empresa. E sempre tentei passar isso ao meu pai, mas ele dizia: "deixa-te disso, eu estou lá para fazer livros, estamos a falar de literatura". Ele era um sonhador, um filósofo. Era um intelectual, no real sentido da palavra e, infelizmente, negligenciava a parte do marketing e da imagem da empresa. Hoje, eu acho, sem querer ser pretensiosa, que a Estampa tem tanta qualidade como outras editoras que estão no mercado, mas não tem tanta visibilidade. São necessárias acções promocionais para estimular a leitura e fazer as pessoas perceberem que gostam de ler.

(Anna Manso Pinheiro, Os meus Livros, Dezembro 2007, nº 58, página 56)

Prémio Daniel Faria 2008 - Regulamento

03.12.07
1. A Câmara Municipal de Penafiel, as Quasi Edições e os herdeiros de Daniel Faria instituem anualmente o "Prémio de Poesia Daniel Faria".

2. O Prémio é atribuído na modalidade de Poesia, visando estimular a criação poética e, em especial, o aparecimento de novos autores.

3. Podem concorrer ao Prémio trabalhos inéditos de autores com idade inferior a 35 (trinta e cinco anos) no mês de apresentação dos resultados (Março 2008).

4. São admitidas a concurso, exclusivamente, obras inéditas em língua portuguesa, com o mínimo de 30 (trinta páginas).

5. O Prémio consiste na edição da obra premiada pelas Quasi Edições e no pagamento integral dos direitos de autor dos exemplares vendidos pela editora, no valor de 10% sobre o preço de capa.

6. As obras concorrentes deverão ser enviadas até 28 de Dezembro de 2007 para "Prémio de Poesia Daniel Faria", Apartado 562, 4764-901, Vila Nova de Famalicão.

7. Para efeito de atribuição do Prémio, será constituído um júri composto por um representante da Câmara Municipal de Penafiel, um representante das Quasi Edições, um representante da Comissão de Edição da Obra de Daniel Faria e uma personalidade de reconhecida competência nesta área.

8. O representante da Câmara Municipal de Penafiel presidirá ao Júri; em caso de empate, um elemento do Júri, rotativamente nomeado, terá voto de qualidade.

9. O Júri pode propôr a não atribuição do Prémio por falta de qualidade das obras concorrentes; não pode, em caso algum, atribuí-lo a mais do que uma obra.

10. O Júri pode atribuir Menções Honrosas no número que lhe aprouver.

11. O autor a quem tenha sido atribuído o Prémio não pode concorrer na edição seguinte.

12. Os trabalhos concorrentes, de que deverão ser enviados 5 (cinco) exemplares para a morada mencionada no ponto 6, serão assinados com pseudónimo não conhecido, usado pela primeira vez, e acompanhados de um envelope lacrado contendo a identificação do autor e os dados para contacto.

13. Os exemplares dos trabalhos não premiados não serão devolvidos, sendo destruídos 30 (trinta) dias após o anúncio dos resultados.

14. Os resultados serão publicitados na Comunicação Social e disponibilizados no site da Editora, no site da Câmara Municipal de Penafiel e em outros sites relacionados com as entidades promotoras do Prémio.

15. Todos os casos omissos serão deliberados pelos promotores do Prémio.

Acordo Ortográfico - Irma González

01.12.07
Mais um artigo de opinião sobre o Acordo ortográfico. Desta feita de Irma González [via 1979].

A ortografia de todos
(Irma González [linguista])

Não é preciso sermos sociolinguistas para constatarmos que as portuguesas e os portugueses (académicos e extra-académicos) não aceitam como justificada a actualização da norma ortográfica da língua.

O debate sobre o último acordo ortográfico para os oito países que usam a língua portuguesa (com uma população aproximada de 230 milhões de falantes) tem-se diluído, entre os cidadãos do mundo lusófono no contexto europeu, em dados e informações de cientificidade e rigor linguístico duvidosos.

Isto porque a questão que sobrevoa a problemática da implementação do texto de 1990 - pretensamente unificado ou unificador - é, na minha opinião, a colonização linguística que as pessoas vislumbram nesta ideia de unificação. E digo colonização porque as alterações propostas têm sido avaliadas à luz das transformações que provoca a irrupção da variedade brasileira da língua no espaço europeu, facto que é inequivocamente aliado do crescente desconhecimento das regras do sistema linguístico e do próprio acordo por parte dos portugueses 1 .

Explica-se, deste modo, que em certas notícias se afirme que «[o] acordo ortográfico consagrará de facto, a ser ratificado pelo Parlamento, a substituição do português pelo brasileiro»2 .

Tem-se referido, só para citar dois exemplos, que, em Portugal, passará a escrever-se "fato" em vez de "facto" embora se pronuncie o c , por uma questão de renúncia face aos brasileiros que escrevem e dizem "fato". E, ainda, que «os portugueses deixarão de escrever "húmido"; para usar a nova ortografia - "úmido".3» , em atenção à tradição ortográfica do Brasil. Nada de mais falso4 .

Na verdade, o acordo ortográfico não introduz uma completa homogeneidade na grafia das palavras em língua portuguesa, é um facto, mas tenta reduzir ao mínimo as diferenças existentes entre as suas variedades. Ou seja, tendo uma ortografia similar para todos, pretende-se uma escrita em harmonia com uma norma única, mas apenas nos casos em que a grafia não entra em contradição com a pronúncia culta (norma-padrão) de cada variedade. E esta devida ressalva vale igualmente para o Brasil como para Portugal.

Esse foi, quanto a mim, o desígnio orientador dos investigadores que tiveram a espinhosa missão de redigir o problemático acordo.

Assim, no que a "cedências" específicas de Portugal, PALOP e Timor (tendo este último aderido em 2004) face ao Brasil diz respeito, esta ortografia propõe a eliminação de algumas sequências consonânticas interiores, como cê e pê efectivamente não pronunciados, por exemplo, com o qual palavras como "acção" e "arquitecto"; "adopção" e "Egipto" passarão a ser escritas, respectivamente: "ação" e "arquiteto"; "adoção" e "Egito". Mas não propõe, como se tem ignotamente afirmado, que em vocábulos consagrados nas pronúncias como tal, do tipo "pacto" ou "rapto", se passe incongruentemente a escrever "pato" e "rato"!

Paralelamente, no português do Brasil as alterações específicas passam, efectivamente, pela supressão do trema (não usado em Portugal desde o acordo de 1945) e do diacrítico (acento gráfico) em ditongos ei de palavras graves, presente na ortografia brasileira em vocábulos como "idéia" e "européia". Já a supressão do acento em ditongos oi (do tipo "heróico" e "jibóia") afecta de igual modo a tradição ortográfica de ambos os países (Portugal e Brasil).

O acento circunflexo, igualmente maltratado nos confusos entendimentos sobre o acordo, é também eliminado nas palavras com acento na penúltima sílaba (chamadas paroxítonas ou graves) terminadas em oo , como "vôo" e "enjôo", usado apenas no Brasil, e da 3ª pessoa do presente do indicativo ou do conjuntivo de verbos como "crer", "ler", "dar", "ver" e seus derivados, que passarão a escrever-se, em Portugal como no Brasil, "creem", "leem", "deem" e "veem", respectivamente.

Não se prevê, como é evidente, a eliminação de circunflexo nas 3ªs pessoas do plural das formas verbais "ter" e "vir" no presente do indicativo ("têm" e "vêm", portanto) e suas derivadas «a fim de se distinguirem de tem e vem 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do imperativo»5 ; .

Ora, o que interessa reter desta formulação é que resulta insustentável continuar a afirmar que este acordo ortográfico pretende obrigar os portugueses a escrever de um modo que não falam, por se tratar de uma dominação brasileira ou de uma concessão à academia sul-americana, que não pretende aceitar as evidências linguísticas do outro lado do Atlântico. Ainda por cima, com o argumento invocado da liderança política e económica, sem se questionar pelo facto de uma língua não se impor nem pela economia nem pela política, mas sim pelo seu legado cultural6 . Portugal, convém recordar, é quem tem o mérito da criação de um sistema linguístico e da divulgação da matriz de onde surgiram os hábitos verbais e culturais dos brasileiros. A História confirma-nos isso 7.

Em suma, para além das questões de Linguística pura da ortografia em causa (que poderemos discutir mais tarde) - que me obrigam a admitir que certas decisões académicas são, senão inexplicáveis, pelo menos discutíveis - é preciso reconhecer que não há, intrinsecamente, uma intencionalidade de coacção linguística que determine a subjugação do português europeu na expansão neo-imperialista dos brasileiros. Pelo menos desta vez e neste acordo ortográfico, não.

Notas: 1.Vejam-se, a propósito das minhas afirmações, os comentários à implementação do acordo no portal www.sol.sapo.pt , onde aparecem opiniões deste tipo: 1) «[a]agora, sem mais nem para quê, uns traidorezitos apelidados de eruditos querem dar de fiado a estabelecida língua portuguesa a esses pobres indígenas que se estabeleceram na parte mais ocidental da Europa»; 2) « (...) actualmente (ao contrário do séc. XVI) quem é que coloniza quem? até nas telenovelas... e o poderio económico que aí vem? fazem um furo e descobrem 8 mil milhões de barris... o 5º território mais extenso do mundo... "bué" de recursos naturais... Eh pá, isto são factos». Disponível em: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=66779

2.Cfr. «Un acuerdo entre siete Estados revoluciona la ortografía de la lengua portuguesa. Las nuevas normas consagrarán de hecho la sustitución del portugués por el brasileño» Por Nicole Guardiola - Lisboa - 07/01/1991- Disponível em www.elpais.com

3.Cfr. «Acordo Ortográfico: O que vai mudar quando estiver em vigor. Os efeitos não serão imediatos - mas a disposição recentemente anunciada pelo governo português de aprovar até ao final do ano o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa poderá ter desfeito algumas dúvidas, atenuado reticências, dissipado mesmo suspeições de "bloqueio"». Por Lusa - 11/11/2007 - Disponível em www.diariodigital.sapo.pt

4.Note-se que não há referência alguma à palavra "húmido" no texto do acordo. Das supressões de h propostas, nenhuma afecta a ortografia portuguesa e, ainda, são salvaguardados os casos em que, por força da etimologia, há a manutenção do grafema. Logo, o vocábulo em causa, podemos inferir, mantém a ortografia actual. Cfr. Base II - «DO H INICIAL E FINAL», in Texto oficial do Acordo Ortográfico de 1990.

5.Cfr. Base IX, 5º, c) do texto oficial do Acordo Ortográfico de 1990.

6.Se o argumento da superioridade económica como factor de imposição linguística fosse válido, não se explicaria que apesar do potencial militar, científico, etc. dos ingleses do Séc. XIX, o francês continuasse a ser a ÚNICA língua cultural e de "elite" desse século e de boa parte do seguinte, na Inglaterra inclusivamente.

7.Lembre-se que o Marquês de Pombal impôs o uso obrigatório do português em território brasileiro, mas essa imposição foi quase desnecessária pois a língua já se encontrava aí generalizada ao tempo do Padre António Vieira e suas doutrinas. No Oriente no séc. XVI, só para citar outro exemplo da expansão lusófona, quando a língua franca era o português, todo o rei local dominava a língua ou dispunha de um intérprete de português. Porque quem controlava os meios de comunicação, a nível marítimo - para trocas, diplomacia e viagens -, eram os portugueses. D. Manuel I enviava para África e Oriente «mestres de ler e escrever» com o encargo de lá abrirem escolas onde se instruíssem as crianças, e com eles seguiam carregamentos não apenas de catecismos, mas também de livros de leitura em língua portuguesa

O que muda - alguns exemplos

01.12.07
Em Portugal e nos outros países lusófonos (sem o Brasil)
- Eliminam-se as consoantes mudas - palavras como "acção" (passa a "ação"), "óptimo" ("ótimo"), "baptismo" ("batismo") ou "tecto" ("teto").
É estabelecida uma excepção para nomes próprios: por exemplo, alguém chamado "Baptista" continua a escrever o seu nome com o "p".

- Desaparece o acento circunflexo em certas formas verbais como em "leem"

No Brasil
- Desaparece o trema, que o brasileiros usam ainda em palavras como "lingüiça" ou "seqüência" (Portugal eliminou o trema desde 1945)

- Desaparecem os acentos agudos em palavras como "assembléia", "idéia", e os circunflexos em palavras como "enjôo" ou "vôo"

Alterações para todos
- As letras "k", "w" e "y" passam oficialmente a fazer parte do alfabeto da língua portuguesa. Apesar de já serem usadas com uma frequência cada vez maior e de fazerem parte dos dicionários, não eram oficialmente parte do alfabeto português. Isto é particularmente relevante para os países africanos, que as usam muito mais do que os portugueses.

- Mudam as regras relativamente ao uso do hífen, que é eliminado nalguns casos, como aqueles em que o segundo elemento começa com "s" ou "r", caso em que essa letra é dobrada ("contra-regra" passa a "contrarregra" e "anti-semita" a "antissemita"); e introduzido noutros ("microondas" passa a "micro-ondas")

As excepções
- O acordo privilegia a pronúncia em relação à escrita, por isso, algumas palavras continuarão a ser escritas de maneira diferente em Portugal (e restantes países lusófonos) e no Brasil para as manter próximas da forma como são ditas.

Exemplos: "recepção" (no Brasil pronuncia-se o "p") e "receção" (em Portugal não se pronuncia, por isso deixa de se usar); ou "Antônio" (como se diz no Brasil) e "António" (como em Portugal).


Alexandra Prado Coelho, Alguns exemplos de alterações previstas pelo acordo, Público, 25.11.2007, p.4

Acordo ortográfico - Argumentos contra

01.12.07
Diferenças com o Brasil vão continuar

Custa dinheiro e não tem nenhuma vantagem para Portugal, afirmam os que se opõem ao acordo. Além disso, acrescentam, "nem sequer é um acordo", porque há palavras que se vão continuar a escrever de maneira diferente em Portugal e no Brasil.

Vai continuar a haver duas grafias
"O acordo mantém as diferenças, não vai unificar nada. Estão a substituir umas diferenças por outras", argumenta Inês Pedrosa, citando os casos em que permanece uma grafia diferente para a mesma palavra para ela ser o mais próxima possível da forma como é pronunciada ("recepção" no Brasil, onde se pronuncia o "p", e "receção" em Portugal, onde não se pronuncia).

Enquanto escritora publicada no Brasil, mantendo a grafia portuguesa, Inês Pedrosa não vê qualquer vantagem. "Nunca nenhum dos meus leitores brasileiros me disse que tinha tido problemas com a grafia. Eu também prefiro ler o brasileiro na sua música original, que a grafia também exprime." Os equívocos que possam surgir são semânticos - "e esses continuarão e até são criativos".

"Os redactores do acordo perceberam que o modo como a língua é falada e escrita é tão distante que não é possível encontrar uma solução gráfica para tudo", explica o linguista Ivo Castro. "Em vez de se dizer que a palavra se escreve em todo o lado da mesma forma, estabelece-se que em cada país escreve-se como aí é pronunciada. É a diferença entre ter duas pessoas a discutir uma com a outra ou as duas combinarem que estão em desacordo."


Não nos vamos entender melhor
"A língua não é beneficiada nem prejudicada de forma significativa" com este acordo, considera Ivo Castro. Na verdade, este "pouco muda os nossos hábitos".

Há quem argumente que, se o que se pretende é um melhor entendimento, esse não vai ser possível, porque, se há equívocos entre portugueses e brasileiros, eles têm a ver com a riqueza da língua e não com a grafia. O brasileiro Ruy Castro, autor do livro Carnaval no Fogo, contou a propósito (na Folha de São Paulo) um episódio exemplar. Um dia, em Portugal, teria dito a uma secretária: "Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada." Perante o espanto de Isabel, teve que ser ajudado por um amigo que fez a "tradução": "Isabel, por favor, chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete."

Tem custos económicos
A revista brasileira Isto É perguntou a Mia Couto o que pensava do acordo ortográfico. Considerando que "não vai mudar a fundo as coisas", o escritor moçambicano criticou o facto de "as implicações que isso tem do ponto de vista económico [acabarem] sempre por sobrar para os países mais pobres". Para Mia Couto, "com esse dinheiro pode-se fazer coisas mais importantes, como, por exemplo, aumentar o conhecimento que temos uns dos outros". E lamentou: "Circulo por São Paulo e a maior parte das pessoas nem sabe o que é Moçambique."

Vasco Teixeira, presidente da Porto Editora, interroga-se, por seu lado, sobre o que vai o Governo fazer com as centenas de milhares ou milhões de livros que acabou de adquirir para o Plano Nacional de Leitura. Quando o acordo começar a ser aplicado nas escolas, argumenta Vasco Teixeira, os livros das bibliotecas terão também que ser substituídos, porque, "numa fase de sedimentação da aprendizagem, ter acesso a duas grafias confunde as crianças".

Apesar disso, o presidente da Porto Editora não vê grandes vantagens na moratória de dez anos. "Não são precisos dez anos para aplicar o acordo ao sistema educativo", diz. "Bastariam quatro ou cinco anos."

Alexandra Prado Coelho, Diferenças com o Brasil vão continuar, in Público, 25.11.2007, p.4

Acordo ortográfico - Argumentos a favor

01.12.07
Aprender a escrever vai passar a ser mais fácil

O grande argumento (que não é necessariamente a favor, mas simplesmente realista) é que Portugal já não pode recuar num acordo que já assinou, e que agora só tem que ratificar. O que dizem os seus defensores?

É o acordo possível
Este é, com as diferenças que consagra, o acordo possível neste momento histórico, diz Malaca Casteleiro, linguista da Academia das Ciências de Lisboa e um dos responsáveis pelo Acordo Ortográfico (está ligado ao processo desde 1986). "A unificação absoluta [da grafia] tentou-se em 1945 e impunha ao Brasil o ponto de vista de Portugal [impunha, por exemplo, as consoantes mudas que o Brasil não usava], e é evidente que o Brasil não acatou."

O acordo estabelecido em 1990 é "realista". "Ficamos com uma ortografia tão unificada quanto possível, sendo que é fácil memorizar os casos em que há dupla ortografia ou acentuação", refere Malaca Casteleiro.


Facilita a aprendizagem e a comunicação
O acordo aproxima a escrita da fala. "Seguiu-se o critério da pronúncia em detrimento do critério etimológico", explica Malaca Casteleiro. "Há certos casos, como a palavra "característica" em que há pessoas que pronunciam o "c" e outras que não. Se se consagrar a escrita opcional, não vem daí mal ao mundo." (Graça Moura, num artigo recente no Diário de Notícias, contestava esta regra, afirmando que "o "c" que querem suprimir [...] é quase sempre essencial para abrir a vogal que o antecede", como em "acção", e que tirá-lo afecta a pronúncia da palavra).

Esta aproximação entre a forma de dizer e escrever facilita a aprendizagem, segundo Malaca Casteleiro. José Eduardo Agualusa afirma que essa é, aliás, uma das grandes vantagens deste acordo para a alfabetização, que é uma das grandes prioridades dos países africanos.

Outra vantagem, dizem os defensores do acordo, como o especialista em assuntos africanos Jonuel Gonçalves (num artigo publicado há dias no PÚBLICO), é, por exemplo, permitir que em cimeiras internacionais com países lusófonos os textos tenham uma redacção única, "evitando-se situações, como ocorreu numa cimeira [da CPLP], em que foram exigidos dois textos de resolução final... na mesma língua". Jonuel Gonçalves lembra ainda que "a língua evolui", apesar dos nostálgicos de palavras como "pharmacia", "telephonico" ou "commércio". "Já D. Dinis teve que enfrentar narizes torcidos dos tracionalistas quando oficializou a língua em detrimento do latim", escreve.

Não podemos ficar de fora
É tarde para sair do comboio. Esta é, para Francisco José Viegas, escritor e director da Casa Fernando Pessoa, uma das grandes razões para se avançar para o acordo. "É verdade que os brasileiros se prepararam. Nós não tivemos nenhuma política de defesa da língua, não tivemos uma política de expansão da língua no estrangeiro, não fizemos o trabalho de casa. Não vale a pena ser conservador quando não há nada a conservar."

Os brasileiros, diz, "têm cada vez mais gente em Angola, em Moçambique, e mais cedo ou mais tarde vão ser eles a locomotiva". Dá como exemplo Maputo, "onde as aulas de Português para estrangeiros são dadas pelo Centro Cultural Brasileiro".

Viegas pensa que perdemos 17 anos, quando nos poderíamos também ter preparado, a nível editorial, para um acordo que, desde que foi assinado por Portugal, era uma inevitabilidade. "Tivemos 17 anos para discutir, e ninguém quis discutir." Além disso, argumenta ainda, chegámos a um ponto em que "o português já não nos pertence" e por isso temos toda a vantagem em "discuti-lo com quem o fala" - nomeadamente os 180 milhões de brasileiros.


Alexandra Prado Coelho, Aprender a escrever vai passar a ser mais fácil, in Público, 25.11.2007, p.4

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