Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Blogtailors - o blogue da edição

Entrevistas Booktailors: Cristina Ovídio

13.03.12

 

Treina a Clube do Autor desde 2010 e garante que tem um plantel literário equilibrado e sem necessidade de fazer grandes dietas. Cristina Ovídio não acredita que o campo sintético do e-book venha a substituir, no imediato, o fascínio natural do papel. Ainda assim, já vai fazendo alguns treinos para que a sua equipa não seja apanhada desprevenida. Como boa ideia para o setor escolhe a multiplicação dos festivais literários, de Norte a Sul. Cristina, ouvido e registado.

 

A Clube do Autor já joga na 1.ª divisão da edição?

Os nossos adeptos são sem dúvida da 1.ª divisão.

 

Quais são as grandes diferenças entre a Clube do Autor e a Oficina do Livro?

A Oficina do Livro foi fundada em 1999, e a Clube do Autor, em 2010. Uma década depois, os contextos são necessariamente diferentes.

 

Sempre assumiram uma vontade de abraçar as novas tecnologias. Como está a ser desenvolvido esse negócio?

Teremos de estar preparados para nos adaptar às novas tecnologias, mas mantendo a lucidez de não irmos atrás de modismos que facilmente se tornam obsoletos. É fundamental não irmos atrás do último grito das tecnologias e aproveitarmos o que de melhor acontece nesse admirável mundo novo para conseguirmos cumprir o nosso objetivo principal: chegar ao leitor, pois a defesa dos interesses dos autores será sempre a nossa prioridade e o nosso caminho. E não cremos que esteja em risco o encanto dos livros em papel.

 

A crise já está a obrigar a uma dieta rigorosa no plano editorial?

Procurámos ser sempre criteriosos na seleção. Nunca fomos gordos e, por isso, não necessitamos de dieta.

A crise implica uma escolha, mas não tem de ser rigorosa. A palavra «rigorosa» assusta. Já alguém conseguiu cumprir uma dieta rigorosa? É uma missão impossível. Penso que a palavra «sensata» é mais adequada. Afinal, há tantas gorduras no mercado que necessitam de ser eliminadas. Neste contexto, parafrasearia a expressão erradamente atribuída a Maria Antonieta: «Se as livrarias estão cheias de livros não lidos, não será a hora de comer brioches em vez dos pãezinhos quentes que se multiplicam ao deus-dará?» Afinal, essa multiplicação dos «pães» terá de exigir de todas as editoras uma dieta salutar. Para evitarmos que os livros cumpram o destino ao qual a dita rainha não escapou: a guilhotina.

 

Qual a maior dificuldade que um editor independente sente no dia a dia?

A dificuldade que dá gosto vencer: manter a independência.

 

Qual a situação mais delicada por que passou enquanto editora?

Nem às paredes confesso.

 

O que devem os editores saber rapidamente sob pena de desaparecerem?

Reconhecer os bons conteúdos, descobrindo novos talentos literários. Valorizar sempre os autores e acompanhá-los na sua criação literária, pois a continuidade é fundamental. Saber conciliar a loucura com a lucidez. Arriscar é importante, mas com rede. E, acima de tudo, amar a literatura.

 

Que palavra já não consegue ouvir?

Austeridade.

 

Qual o seu maior ódio de estimação?

A palavra «resignação».

 

Se pudesse fazer uma pergunta ao atual secretário de Estado da Cultura, qual seria?

Por que razão um escritor, editor, diretor de uma prestigiada revista, numa profissão apaixonante, decide mudar de papel?

 

Na atual conjuntura, como fazemos para que a língua portuguesa valha mais do que a PT, como apontou o ex-ministro da Cultura Pinto Ribeiro?

Salientaria a necessidade de conjunção de esforços entre as instituições públicas e os agentes culturais. Terá de haver uma ação concertada entre a Secretaria de Estado da Cultura e os editores com vista a uma internacionalização dos autores. Sem amiguismos. É urgente a presença da literatura e da cultura portuguesas no mundo. Amar a literatura é fazê-la viajar pelo mundo. «O universal é o local sem paredes», como dizia Miguel Torga.

 

Acha que devíamos implementar o novo Acordo Ortográfico?

Por mim, não. A pergunta que se impõe é: temos escolha?

 

Dê-nos uma boa ideia para o setor editorial português.

Promover Festivais Literários por todo o país, seguindo o exemplo das Correntes D’Escritas da Póvoa de Varzim: a organização conduzida pela Manuela Ribeiro e pela sua equipa da Câmara Municipal, que junta o rigor germânico e o calor latino. Tirar da torre de marfim autores considerados inacessíveis no contacto direto com os seus leitores. A literatura precisa de sair à rua.

 

Que pergunta não fizemos e deveríamos ter feito?

O que a faz feliz nesta profissão?

 

 

©Artur Henriques



Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português/Inglês) pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Fez uma pós-graduação em Multimédia. Professora profissionalizada de Português, foi docente do ensino secundário no Colégio de S. José — Quinta do Ramalhão, em Sintra. Foi coordenadora editorial da Oficina do Livro (2001-08). Trabalhou como editora-executiva na Planeta (2008-10). Desde setembro de 2010, é editora na Clube do Autor.

-

Campanha «Formai-vos!»: desconto de 50% para desempregados e recém-licenciados. Novidades 2012: [Lisboa] Comunicação Editorial, Livro Infantil, Revisão de Texto - nível inicial; [Porto] Revisão de Texto - nível intermédio.

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.