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Blogtailors - o blogue da edição

Blogtailors.br: Fernando Guedes sobre a Verbo e a edição no Brasil

03.12.12

 

 

«Em 1968, quando se cria a filial da Verbo no Brasil, como era o mercado brasileiro e a visão que os editores portugueses tinham dele?

O Brasil é um mercado muitíssimo mais poderoso do que o nosso. O tempo em que iam daqui barcos carregados de livros escolares, e de alguns outros, para o Brasil morreu definitivamente ainda eu nem sonhava com a Verbo, mas ficou uma ideia a pairar na imaginação de nós todos de que o Brasil era o eldorado. E não é, nem nunca foi. Porque é que nunca fizemos nada de jeito no Brasil? Porque não temos dimensão. Agora não sei como é; pode ser que algum dos grandes grupos editoriais tenha dimensão para fazer lá alguma coisa, mas, mesmo assim, tenho dúvidas. O Brasil tem editoras muitíssimo maiores do que qualquer uma das nossas, pelo menos antes desta aglomeração recente, da LeYa e da Porto Editora. E, depois, nunca tivemos possibilidades financeiras e económicas para fazer frente àquele território imenso. Território imenso que, sobretudo naquele tempo em que mais me interessei pelo Brasil, se estendia quase só pela orla marítima, mas numa extensão como daqui à Polónia. E havia que aguentar aquilo, o que exigia fontes de financiamento e capacidade humana que não  tínhamos. E creio que ainda hoje não há. Portanto, quando se dizia mal do Brasil, o que também era uma moda, o que se devia dizer era que nós nunca fomos capazes de aguentar, de nos pormos à frente no Brasil, com uma entrada a sério no mercado. Instalámo‑nos lá dez anos depois de se criar a Verbo e ainda fizemos umas coisas, durante uns anos, sobretudo numa área que era possível trabalhar, a área do crediário. Na livraria, tentámos, mas nunca conseguimos fazer nada de importante. O crediário era mais fácil, até pelas características dos nossos sócios brasileiros, e o que fizemos foi pegar em enciclopédias, em obras completas, como as de Camões, ou de Pessoa, em livros do tipo medicina caseira, etc., e essas obras conseguíamos vender lá. O que fazíamos não era ter um crediário propriamente dito, ainda que o tenhamos chegado a ter, durante algum tempo, mas sim vender as obras aos crediaristas que havia por todo o Brasil, que eram muitos. E aí já não era só na orla marítima mas também para o interior, para os confins daquela terra imensa. E esse foi um período importante e frutuoso da nossa Verbo de São Paulo. Depois, o crediário lá também começou a fraquejar, hoje suponho que quase não existe, e nós também não existimos. Ou não existíamos, em 2009. Entretanto, um dos sócios morreu, e a única coisa que havia a fazer era fechar a porta.»

 

Excerto retirado das páginas 64 a 66 de Fernando Guedes: O decano dos editores portugueses, primeiro volume da coleção «Protagonistas da Edição» da autoria de Sara Figueiredo Costa, uma edição Booktailors. A obra será lançada na próxima quarta-feira, dia 5 de dezembro, pelas 18.30, na Casa Fernando Pessoa. A apresentação será de Francisco Espadinha, fundador da Editorial Presença.

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